Enquanto escuto Grandola Vila Morena, fico pensando que no fim, no fundo, continuo muito parecida com a adolescente que eu fui.
Continuo gostando e criticando a cultura pop. Continuo discutindo
feminismo e batendo contra o sexismo. Continuo lutando por uma arte que
seja acessível. Continuo fumando para acalmar a inquietude, e sofrendo
por sentir que nunca faço o suficiente. Continuo acreditando que só a Anarquia poderá nos salvar de nos destruirmos.
Continuo acreditando que a fé é uma intoxicação mística, e que nada é
mais sagrado do que o que está aqui, bem diante dos nossos olhos.
Continuo tentando acreditar.
A cada dia eu penso que não dá mais. Que não aguento mais bater na
ponta da faca, que o sangue que correu já foi o bastante. Que vou
desistir da escola pública, do magistério. Que a violência venceu a
poesia, e que nada será o bastante.
Então algo acontece. Uma
criança em algum lugar nasce com a dignidade de um parto que não foi
roubado. Uma menina ousa acreditar que não, ela não tem que dar
satisfações a ninguém. Uma pessoa risca poesia na porta de um banheiro
público. Alguém assiste um filme e foge para assistir o por do sol cair
atrás da cidade. Alguém questiona o destino de uma obra de arte pública
que foi arrancada.
E eu quase ouso acreditar de novo.
Talvez a violência tenha mesmo vencido a poesia. Mas talvez não.
terça-feira, 22 de abril de 2014
domingo, 13 de abril de 2014
a religião do meu filho
E
André está assistindo Cosmos comigo. Eu tinha planejado assistir um
episódio só por semana, mas quando a pessoa diz que "esse é o melhor
dia da minha vida" sobre ver o primeiro episódio, você desencana e
aceita o pedido de fazer maratona e ver o que saiu até agora em um só
fim de semana.
Ver ele devorar as imagens é fantástico. Ver ele virando fã do Neil de Grasse Tyson ( "ele conhece TUDO de ciência? Ele conhece muita coisa. Ele é incrível, mamãe!) é me ver virando fã do Carl Sagan uma era atrás.
Sentir ele segurando minha mão quando algo o deixava sem fôlego ou uma informação o deixava aflito. Ver ele pulando de empolgação descobrindo algo novo.
E o pedido : "quando sair em DVD, compra pra mim ?"
Porque ele já quer ver e rever centenas de vezes, até decorar.
A experiência científica é a religião do meu filho. E eu fico feliz de dividir com ele a relação de maravilhamento com o que ele considera mais sagrado.
Ver ele devorar as imagens é fantástico. Ver ele virando fã do Neil de Grasse Tyson ( "ele conhece TUDO de ciência? Ele conhece muita coisa. Ele é incrível, mamãe!) é me ver virando fã do Carl Sagan uma era atrás.
Sentir ele segurando minha mão quando algo o deixava sem fôlego ou uma informação o deixava aflito. Ver ele pulando de empolgação descobrindo algo novo.
E o pedido : "quando sair em DVD, compra pra mim ?"
Porque ele já quer ver e rever centenas de vezes, até decorar.
A experiência científica é a religião do meu filho. E eu fico feliz de dividir com ele a relação de maravilhamento com o que ele considera mais sagrado.
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